Peritos defendem que genoma oceânico oferece oportunidades incentivando à sua preservação | - CCMAR -
 

Peritos defendem que genoma oceânico oferece oportunidades incentivando à sua preservação

 

O genoma oceânico compreende os recursos genéticos presentes em toda a biodiversidade marinha. Estes recursos têm um elevado potencial para aplicações biotecnológicas com interesse comercial, no entanto encontram-se ameaçados por vários fatores, desde a sobre exploração, à perda e degradação de habitats, poluição e impacto das alterações climáticas. O alerta foi dado por um grupo de especialistas internacionais, que integra os investigadores portugueses Adelino Canário (CCMAR) e Narcisa Bandarra (IPMA).

Adelino Canário, investigador, presidente da Direção do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e docente na Universidade do Algarve, é um dos autores que contribuiu para um artigo recentemente publicado sobre “O Genoma oceânico: conservação, uso justo, equitativo e sustentável dos recursos genéticos marinhos”, o qual dará também o mote para um webinar na próxima sexta-feira (24 de abril). O investigador do CCMAR faz parte do Painel internacional de especialistas para uma Economia Sustentável dos Oceanos, que integra 14 países, e que estão a trabalhar ativamente para encontrar soluções para os vários problemas que o Oceano enfrenta.

O genoma oceânico é a base na qual assentam todos os ecossistemas marinhos. A vida marinha é incrivelmente diversa, compreendendo um mínimo de 2,2 milhões de espécies, estimando-se que 90% permanecem ainda desconhecidas.

A par da sua enorme riqueza e biodiversidade, os rápidos avanços nas tecnologias de sequenciação e bioinformática permitiram a exploração do genoma oceânico. Essas novas descobertas trazem abordagens inovadoras à conservação e um número crescente de aplicações comerciais com recurso à biotecnologia, desde tratamentos anticancerígenos, a cosméticos e enzimas industriais.

O genoma oceânico está, contudo, ameaçado pela sobre-exploração dos recursos, pela perda e degradação de habitats, pela poluição, pelos impactos das alterações climáticas, por espécies invasoras e outras pressões, quer pelos efeitos cumulativos e de interação entre vários destes fatores.

Este artigo adota uma abordagem holística da questão, analisando a nossa compreensão da diversidade genética da vida no oceano, as ameaças a essa diversidade, os benefícios que ela oferece no contexto de um mundo em mudança e as ferramentas e abordagens para protegê-la. Estabelece também a necessidade de maior equidade através de aumento de capacidades e da promoção de inovação inclusiva e tecnologias acessíveis.

Os autores propõem uma série de diretrizes para garantir a conservação inteligente e defendem que só desse modo se conseguirá implementar uma economia sustentável dos oceanos, assente fundamentalmente na conservação e realçam a importância da disponibilização dos resultados dessa investigação, com a produção de ferramentas e abordagens que garantam justiça na partilha desses benefícios.

Numa altura em que ao mais alto nível das Nações Unidas se discute a biodiversidade em áreas fora da jurisdição nacional (BBNJ), esta será uma oportunidade de colocar na agenda de políticos e decisores a necessidade urgente de garantir que o genoma oceânico é protegido e pôr em marcha as recomendações dos especialistas, para que os benefícios que dele advêm para a humanidade sejam distribuídos por todos.

As propostas deixadas pelos peritos vão no sentido de criar áreas marinhas protegidas, que abranjam 30% dos oceanos;  apoiar uma maior equidade na investigação e transferência de conhecimento de genómica; garantir que as normas de propriedade intelectual sustentam este propósito de equilíbrio e partilha de conhecimento; avaliar riscos e benefícios de novas tecnologias e práticas de biologia molecular aplicadas ao ambiente marinho; e, por último, reivindicar um maior apoio financeiro e político a fim de melhorar o conhecimento do genoma oceânico e respetiva partilha.

 

O artigo faz parte de uma série de 16 “Blue Papers”, que serão publicados até junho de 2020 e que resumem as mais recentes inovações científicas sobre soluções oceânicas inovadoras nas áreas de tecnologia, política, governança e finanças.

O lançamento oficial do artigo teve lugar a 17 de abril, e ainda esta semana, próxima sexta-feira, está agendada uma conferência online com os autores principais, que se disponibilizarão para responder às questões mais relevantes sobre o tema: Genoma Oceânico: desafios e oportunidades.

 

Faro, 21/04/2020

 

Para mais informações, contacte:

Andreia Pinto

Communication Manager

aspinto@ualg.pt

Tlm: 913791995

 

Informação adicional e ligações

Blue Paper Link

Blue Paper Ocean Genome Webinar: Sexta, 24 de Abril 2020 às 16:00. Registe-se aqui!

 

High Level Panel

Criado em setembro de 2018, o Painel de Alto Nível para uma Economia Oceânica Sustentável (HLP) é uma iniciativa única de 14 chefes de estado, empenhados em catalisar soluções ousadas e pragmáticas para a saúde e a riqueza dos oceanos que suportem os objetivos de Desenvolvimento Sustentável e construam um futuro melhor para as pessoas e o planeta. Ao trabalhar com governos, especialistas e principais intervenientes de todo o mundo, o HLP tem como objetivo desenvolver um roteiro para a transição rápida para uma economia oceânica sustentável, além de desencadear, ampliar e acelerar ações de resposta em todo o mundo.

 

Expert Groups

O grupo de peritos é formado por investigadores experientes e analistas de políticas de todo o mundo, identificados pelos membros do HLP pelo seu contributo exemplar para o vasto leque de disciplinas relacionadas com o oceano e que são consideradas no trabalho do HLP. 

A função deste grupo é fornecer e rever informação e aportes científicos relevantes, propondo soluções práticas para as questões e desafios levantados pelo Painel. Os membros do grupo de peritos vão também contribuir para a revisão do Relatório final do Painel, que junta os vários sub-relatórios Blue Papers e outros documentos.

 

Short Bio (Adelino Canário)